Aos perdidos no deserto.

Olá prezado navegante, o que o fez cair aqui neste ambiente árido e sem vida (quase nenhuma)? Este lugar não é pra você. Não estou querendo expulsá-lo, porém! Fique à vontade.

Deixe-me contar - já que está por aqui - o motivo da criação deste ponto no meio do nada de um mar de IPs e máscaras de sub-rede. Mas antes, acho que posso mencionar que este blog já teve alguns nomes: fl4v10, tremdeler, poráguabaixo e outros de que eu não me lembro. Porém acho o atual nome mais adequado já que não possuo seguidores e apenas eventualmente recebo a visita de algum incauto redirecionado por motivo que foge a minha compreensão. Entrou em uma trilha e se perdeu?

Volto à razão da criação do blog, se o senhor ou senhora ainda estiver aí, que reverbera vazios verbos - e artigos, e adjetivos, etc - ao vento arenoso dos bytes. Certamente, se o ilustre visitante escreve e se goza de relativa autocrítica e cuja vaidade não interfere excessiva, deve já ter jogado fora alguns de seus escritos. O problema disto é que se perde alguma coisa boa dentre as tantas coisas ruins. Perde-se também um pouco da própria história literária (ainda que questionável ou incipiente). Como vamos perceber que evoluímos se separamos só um pequeno texto que ficou bom? Neste sentido criei um depósito de meus escritos. Confesso que a intenção era também me forçar a escrever já que poderia - algo que não se concretizou - ter eco em algum leitor que seguisse este espaço.

Assim, sem mais, o espaço existe. E existe só para mim (na maioria do tempo). Caso queira sinalizar na areia um traço de presença humana, fique a vontade para deixar um recado após o sinal!! E obrigado pela visita!

BEEP.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Furo no Futuro – Final


Furo no Futuro - Final

Na delegacia:

__Barbosa, dá uma ajuda aqui. – disse o delegado – leva essa papelada lá pra cima que eu quero ouvir essa história aqui direito. Resolve o que pintar aí, fala que eu saí, sei lá, desenrola aí pra mim. – virando-se para Tales – você tem advogado rapaz?
__Não senhor
__Pelo visto você vai precisar de um. Agora preste atenção, quero que você repita o que aconteceu ontem à noite para que eu possa entender direitinho o que você está dizendo. Você estava em um encontro? Encontro de que?
__É que eu trabalho com Voip um sistema de voz sobre IP – disse Tales – este sistema funciona utilizado-se da internet ...
__Sei, o filho do Barbosa trabalha com isto, continue. – interrompeu o delegado
__Este encontro foi realizado como forma de promover nossa empresa na região.
O delegado pensou que não poderia deixar de confirmar com o filho do Barbosa se houve esse tal encontro ou não.
__Certo, e como você foi parar nessa tal festa em plena quinta-feira?
__É que um dos parceiros no nosso negócio, residente em Juiz de Fora me convidou para ir a este aniversário depois do encontro.
__A que horas foram para a festa?
__O encontro acabou às 16:00, meia hora depois já estávamos chegando ao local da festa.
__Não é meio cedo para uma festa?
__Foi o que eu achei, mais o Rogério disse que os convidados eram colegas de trabalho do aniversariante, que iriam direto do trabalho para o aniversário. De qualquer forma fomos praticamente os primeiros à chegar, o restante do pessoal só começou à vir lá pras cinco e meia.
O delegado fez apenas um breve aceno com a cabeça para que continuasse.
__Como moro em Belo Horizonte e não vinha à zona da mata desde minha adolescência não conhecia o local e nem qualquer das outras pessoas presentes nesta festa.
__Mas você certamente possui o endereço ou telefone deste amigo que o levou à festa.
__Sim – deu uma pausa depois continuou – fiquei meio quieto no inicio mais depois de algumas cervejas comecei à me enturmar e fiquei rodando entre os grupos que se formavam. Depois de algumas horas senti falta do meu colega e fui procurá-lo, mas ele já havia ido embora. Passavam das seis e meia e estava começando a escurecer. Ninguém se predispunha a ir embora, quanto mais a me levar ao centro para que eu voltasse ao hotel. Decidi que saberia ir sozinho, fiz meia dúzia de perguntas ao povo da festa e saí à pé decidido à pegar um ônibus ou um táxi para o centro. Saí andando pelas ruas que estavam quase desertas, as ruas parecem diferentes à noite. A iluminação pública era boa e eu estava arrependido de não ter ido ao banheiro antes de sair. Decidi que deveria fazer uma parada no próximo cantinho mais escuro que achasse, foi quando vi aquela casa abandonada.
__E como você sabia que era uma casa abandonada?
__Bom, pelo jardim. Ele estava coberto de mato, além disto, a porta estava entreaberta. Dava pra ver da rua.
__Certo, continue.
__Entrei pelo jardim mal cuidado e fiquei fascinado pela bela arquitetura do casarão. Havia uma pequena varanda em frente à porta frontal da qual saiam duas escadas formando uma espécie de pirâmide. Subi por uma delas e entrei com cuidado pela porta entreaberta e empoeirada.
__Você não estava apertado? Porque não se aliviou ali mesmo no jardim.
__Aquele jardim estava com mato alto e estava meio escuro. Podia ter algum inseto, cobra, ou outro animal. Além do mais eu estava curioso e fascinado pela casa. Queria ver como ela era por dentro. Só que quando entrei não vi muita coisa por causa da penumbra. Acendi o celular pra iluminar um pouco a sala cujas paredes estavam pichadas e prestes a desmoronar. Já estava com a bexiga doendo e resolvi finalmente me aliviar sem remorso, afinal percebi ao caminhar que pela irregularidade do piso este já havia sido totalmente danificado. Além do mais o cantinho que escolhi fedia mais do que banheiro público. Sabia que não devia me demorar, queria voltar logo à cidade, mas não consegui ignorar uma grande peça de louça imponente vista de relance dentro de uma das portas iluminada fracamente pela luz do celular. Era uma banheira que apesar de suja era linda. Fiquei imaginando-me mergulhado nela e quais corpos haviam tido o prazer de imergir nesta banheira. Certamente belas mulheres ou jovens com os hormônios à flor da pele.
__Podemos voltar ao assunto, por favor? – disse o delegado irritado com o prolongamento desnecessário do relato.
__Claro, claro – disse Tales meio envergonhado - depois de apreciar o objeto dei às costas para sair da casa e caminhei em direção à porta passando pela outra extremidade da sala por causa do desvio feito para observar a bela banheira. Foi quando literalmente tropecei em algo e caí. Só que não era algo e sim alguém.
__Mas você não estava iluminando o local com a lanterna?
__Celular. Com o celular. Mas a luz era muito fraca e o corpo estava encoberto pela quina de uma parede. O banheiro ficava ligeiramente dentro de um corredor.
__E o que aconteceu depois?
__Bom, eu fiquei apavorado com o que vi. Após sentir o cheiro de terra úmida devido ao abandono da casa comecei a apalpar o solo em busca do meu celular que havia se apagado com a queda. Levei um susto ao tocar em um corpo, achei que era um mendigo e fiquei com medo de que ele acordasse e quisesse me agredir. Por fim achei meu celular e quando o acendi e apontei para o pretenso mendigo, meus olhos não acreditaram no que viram. Minha espinha dorsal gelou-se de alto à baixo e vomitei expelindo grandes quantidades de cerveja e alimentos não completamente digeridos. Era o corpo de uma mulher, ou melhor, menina. Estava totalmente cortado, mutilado e ensanguentado. O susto foi tão grande que saí o mais depressa possível de perto daquela cena horrenda.
__Se foi de fato desta forma, porque não veio imediatamente à policia?
__Porque depois disto simplesmente apaguei. Não lembro de mais nada, até acordar em um hotel hoje às nove e meia da manhã.
__Sei. Você está meio enrolado rapaz.

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Jamais voltaria àquela cidade. Sua antiga vida não mais o interessava. Não tinha amores perdidos, assuntos mal resolvidos, saudades ou qualquer outra coisa que lhe prendesse ali. Queria deixá-la para traz junto com seu outro eu. Seguiria novamente seu caminho.
O culpado pelo hediondo crime da noite anterior já havia sido pego. Claro que o delegado havia ficado com a pulga atrás da orelha e não acreditava inteiramente no que Tales havia lhe dito, porém após uma ligação para a delegacia de Juiz de Fora tudo foi rapidamente esclarecido. O assassino havia praticado um crime passional e sido entregue para a polícia pelos próprios pais que já desconfiados da insanidade do filho não tiveram dúvidas ao entregá-lo às autoridades ao vê-lo chegando em casa com a roupa suja de sangue. Na delegacia confessou friamente o crime. O relato de Tales fazia certo sentido e não havia motivo para mantê-lo preso mesmo com a lacuna do que haveria ocorrido entre o incidente e o seu relato. Tales sabia preencher as lacunas, mas dizer isto ao delegado seria loucura. Se contasse uma história mirabolante como a dele jamais conseguiria convence-lo de qualquer outra coisa. Por mais coerente que fosse.
Após ser liberado finalmente lembrou-se de ligar para o escritório e permitiram-no que retornasse ao trabalho apenas na segunda-feira não seria um grande prejuízo afinal, tinha todo o fim de semana pela frente, mas desejava sair logo daquele lugar e voltar para sua vida normal, se é que ele era normal.

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