Aos perdidos no deserto.

Olá prezado navegante, o que o fez cair aqui neste ambiente árido e sem vida (quase nenhuma)? Este lugar não é pra você. Não estou querendo expulsá-lo, porém! Fique à vontade.

Deixe-me contar - já que está por aqui - o motivo da criação deste ponto no meio do nada de um mar de IPs e máscaras de sub-rede. Mas antes, acho que posso mencionar que este blog já teve alguns nomes: fl4v10, tremdeler, poráguabaixo e outros de que eu não me lembro. Porém acho o atual nome mais adequado já que não possuo seguidores e apenas eventualmente recebo a visita de algum incauto redirecionado por motivo que foge a minha compreensão. Entrou em uma trilha e se perdeu?

Volto à razão da criação do blog, se o senhor ou senhora ainda estiver aí, que reverbera vazios verbos - e artigos, e adjetivos, etc - ao vento arenoso dos bytes. Certamente, se o ilustre visitante escreve e se goza de relativa autocrítica e cuja vaidade não interfere excessiva, deve já ter jogado fora alguns de seus escritos. O problema disto é que se perde alguma coisa boa dentre as tantas coisas ruins. Perde-se também um pouco da própria história literária (ainda que questionável ou incipiente). Como vamos perceber que evoluímos se separamos só um pequeno texto que ficou bom? Neste sentido criei um depósito de meus escritos. Confesso que a intenção era também me forçar a escrever já que poderia - algo que não se concretizou - ter eco em algum leitor que seguisse este espaço.

Assim, sem mais, o espaço existe. E existe só para mim (na maioria do tempo). Caso queira sinalizar na areia um traço de presença humana, fique a vontade para deixar um recado após o sinal!! E obrigado pela visita!

BEEP.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ele

depois que a flecha atinge seu alvo, nada mais pode ser feito

Era um dia da semana qualquer, talvez um terça-feira e era por volta de uma da manhã. Eu assistia um filme que falava sobre um homem que saía pelas ruas destruindo carros e atirando nas pessoas diante de um drama pessoal qualquer. No intervalo fui ao banheiro e sem qualquer motivo tive uma crise de choro. Caminhei de um lado a outro da casa até que finalmente peguei as chaves do carro e saí dirigindo sem rumo. Quando percebi estava na estrada de Cataguases-Sereno em uma parte da estrada em que havia uma reta, que segundo diziam produzia um auto índice de acidentes, parei o carro. Desliguei os faróis e fiquei cerca de uns 40 minutos quieto, com o rosto encostado no volante. 

Estava em transe, agora eu sei. A neblina já tomava conta da estrada e quando levantei o rosto, ao meu lado, do lado de fora, na janela havia uma criatura alienígena com seu aspecto indefinível entre rústico e angelical, entre animal e vegetal. Fui envolvido por uma bolha de vácuo. Perdi o fôlego mas não era como me afogar pois nada entrava em meus pulmões apenas saía o ar. Não foi desconfortável. E então só existia a escuridão. 

Eu nem sabia que existia a luz. Eu era apenas uma criança. Uma pressão agia e fui arrancado da escuridão aos berros. Mudo, cego e surdo ao mundo mas sentindo dor, nas mais diversas intensidades, dor psicológica, física e sensorial. Eles nos olham e nos admiram, sentem ternura e nos protegem. Neste planeta é assim. Aí, dia a dia vai crescendo em volta de nosso corpo de criança um exoesqueleto. Uma mão gigante cai pesada provocando pavor e toda aquela massa difusa e espessa vai se fortalecendo. Esta espécie de armadura orgânica nos protege um pouco da dor, mas nosso aspecto deixa se torna mais rústico. Caminhamos por corredores, prédios, monumentos, ruas e cidades e indistintamente tudo é branco, claro, ostensivamente alegre ou colorido, limpo e brilhante. Não há qualquer rachadura ou imperfeição nas paredes e nos artefatos tecnológicos. Não se consegue mais ver a natureza profunda deste planeta, do meu planeta. Jamais consegui encontrar uma sombra ou um refúgio. 

Os olhos, que apesar de verem com perfeição todo o ambiente não distinguem nenhuma feição. Meus pares passam por mim sem foco, como uma câmera desregulada. As vezes ao tentar tocá-los eles se desfazem em fumaça. Mas alguns se tornam distinguíveis, reconheço suas feições e as vezes posso perceber o que eles pensam. Só que todos, invariavelmente após algum tempo voltam a desfocar-se e a perderem-se no meio dos rostos sem identidade. 

E assim vou atravessando a paisagem artificial num passo solitário e deixando crescer em mim a casca dura e feia que me afasta do perigo, só com ela posso lidar com a atmosfera violenta do meu planeta. Junto com ela cresce minha cognição e inteligência. Conhecimentos dos mais variados são aprendidos e um cérebro prodigioso potencializa-se. Entretanto a criança continua enterrada dentro da armadura. Está presa, vulnerável e triste. Ainda sentindo medo e dor, precisando de proteção. Só que quem olha não a vê sobre massa orgânica da armadura. Sonhamos um dia encontrar a escuridão e nos entregar a ela. Não é possível suportar tanta luz e beleza quando ocultam a verdadeira natureza de tudo e estes olhos não possuem pálpebras.