O desafio era fechar a porta. Ela se foi. Talvez um dia a reencontrasse e se lembrasse deste agonizante momento em que a dilacerante dor da despedida trespassava-o o peito. Luana não voltaria, fechou-a enfim. Demorou-se um momento ainda de pé imóvel olhando a passagem outrora livre e que agora não se abriria novamente. Voltou-se para o deserto corredor excessivamente iluminado e caminhou. Haviam outras portas mas não quis abri-las. Em nenhuma delas estaria Luana. Uma constante neblina denunciava-se presente rente ao chão, mesmo não existindo. Era apenas um aspecto de realidade que se assume em nossos sentidos de acordo com os sentimentos demasiado intensos que as vezes nos acometem. Era longo o percurso e a resignada calma com que o fazia denunciava a impossibilidade de calculá-lo pela indiferente variável do tempo. Neste lugar ele não existia, se é que existia em algum outro.
A cada passo que dava deixava para trás não só as paredes do corredor, mas também pouco a pouco, como se feitas delas fossem, as lembranças dos momentos que as antecediam. Agora sentia paz e esperança e não pensava em nada. Seu caminhar era automático e seus olhos vislumbravam o poder hipnótico exercido pelas paisagens infinitas e repetitivas. Não havia som, nem silencio.
Foi quando o mundo se fez presente com sua temperatura gélida, seus desagradáveis ruídos e um gosto amargo na garganta seca como também eram os lábios vedados e queimados pelo frio. A pressão de um bocejar fez-se subitamente em seu pálato, mas sua boca permaneceu cerrada ao contrario de seus olhos que forçaram-se à abrir pela primeira vez em 8 meses.