Aos perdidos no deserto.

Olá prezado navegante, o que o fez cair aqui neste ambiente árido e sem vida (quase nenhuma)? Este lugar não é pra você. Não estou querendo expulsá-lo, porém! Fique à vontade.

Deixe-me contar - já que está por aqui - o motivo da criação deste ponto no meio do nada de um mar de IPs e máscaras de sub-rede. Mas antes, acho que posso mencionar que este blog já teve alguns nomes: fl4v10, tremdeler, poráguabaixo e outros de que eu não me lembro. Porém acho o atual nome mais adequado já que não possuo seguidores e apenas eventualmente recebo a visita de algum incauto redirecionado por motivo que foge a minha compreensão. Entrou em uma trilha e se perdeu?

Volto à razão da criação do blog, se o senhor ou senhora ainda estiver aí, que reverbera vazios verbos - e artigos, e adjetivos, etc - ao vento arenoso dos bytes. Certamente, se o ilustre visitante escreve e se goza de relativa autocrítica e cuja vaidade não interfere excessiva, deve já ter jogado fora alguns de seus escritos. O problema disto é que se perde alguma coisa boa dentre as tantas coisas ruins. Perde-se também um pouco da própria história literária (ainda que questionável ou incipiente). Como vamos perceber que evoluímos se separamos só um pequeno texto que ficou bom? Neste sentido criei um depósito de meus escritos. Confesso que a intenção era também me forçar a escrever já que poderia - algo que não se concretizou - ter eco em algum leitor que seguisse este espaço.

Assim, sem mais, o espaço existe. E existe só para mim (na maioria do tempo). Caso queira sinalizar na areia um traço de presença humana, fique a vontade para deixar um recado após o sinal!! E obrigado pela visita!

BEEP.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Azul - Prólogo

Eu queria dormir, estava cansado, mas aqueles pensamentos ficavam girando em minha mente. Era meu ego, eu sabia, não queria ter raiva, não queria ficar pensando, só queria dormir. Mas ele me disse que eu não era racional, justo eu, não podia suportar esta ofensa. Ele é quem não era racional, ele ignorava toda a racionalidade, era ele quem definia o objetivo e agia de forma contrária, contraditória. Eu é quem devia dizer isso a ele. Mas se ele quer que eu faça o relatório, eu o farei. Um relatório inútil. Porque estou pensando nisso? Não queria pensar em nada. Eu as vezes fazia este exercício de não pensar em nada, apenas sentir. Ou pensava em algo bom, ou em um lugar interessante. Ou em alguém interessante, mas a mente resiste. Sinto a raiva enrijecendo meu corpo, meu semblante em ondas intermitentes. Meu pensamento gira e sempre volta na raiva. As vezes mesmo exausto passam-se horas sem que eu consiga dormir. Mas hoje o cansaço está vencendo, as paisagens e a roleta dos pensamentos, gostava de chamar assim, flutuavam e promoviam a desconexão com a realidade, e neste ínterim, quando acordava, percebia que estava quase dormindo. 

A roda d'água começou a girar, o rio estava calmo, os pés sentiam a terra. Agora entrava em um lugar fresco e com chão úmido de terra. Era um barracão feito de madeira e palha, havia muitas espigas de milho no chão. O cheiro de palha era bom, era hora de debulhar o milho, senti-lo nas mãos, no sono, no sonho, na mente, no relaxamento. A mente sempre acha uma forma de purificar-se, de atenuar os desprazeres pra não pifar. A prática da meditação pela manhã ajudava muito, desde que começara minha raiva não era tão frequente. Meu controle melhorara. Agora o barracão ficava cada vez mais escuro. Tudo parecia se esvanecer. Minha mãe estava lá comigo, meus avós já falecidos sentaram-se também. Meus tio-avô trabalhava num baleio de bambu. Trançava as tramas, tudo estava calmo, quase se apagando e se perdendo no sono profundo, profundo como a escuridão do barracão, tranquilo como o silêncio quebrado apenas pela água do riacho que passava ao lado... tranquilo... silêncio... profundo... sono... escuridão... 

Subitamente em um clarão tudo se iluminou, despertou, um clarão azul, minha cabeça parecia imersa em uma piscina ou banheira aquecida. Os contornos começaram a ficar nítidos, em contrastes em azul e preto. Era meu quarto, era onde eu estava, consciente, deitado, de olhos fechados. Mas ainda assim podia ver em nítido azul como se meus olhos estivessem abertos todos os cantos do quarto. Não precisava virar a cabeça, não precisava abrir os olhos. Não precisava caminhar nem focar, nem direcionar o olhar. Era como se visse tudo de uma só vez. O quarto todo em 360 graus. Mais do que isto, em todas as direções. Aliás, me dava conta agora, também fora do quarto e além das paredes. Tudo ficava menos nítido ao se distanciar, mas mesmo assim podia ver muito além do que a visão normal. Era um sentimento, uma sensação, uma visão azulada, um novo sentido, uma nova percepção. Ao abrir os olhos e acender a luz, pude perceber que não era um sonho. Algum sentido novo havia despertado, que me permitia ver de outra forma, em imagens que se sobrepunham às imagens captadas pela córnea e indo além. Que percebiam vultos. Que percebiam objetos ligeiramente diferentes. Mas uma leve lembrança dos pensamentos antes de dormir, uma leve pontada desses pensamentos ruins apagaram a chama azul. Devo dormir novamente. Conversaremos sobre a luz azul em meus olhos mais tarde...se ela voltar amanhã...

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