Um vento refrescante a acordou e agora o pequeno pássaro amarelo, parecido com o que havia visto na janela, dava pulinhos no chão do quarto. Precisava de um banho, precisava comer, precisava de energia, precisava acordar. Só ouvia os sons da natureza e a paz que ela trazia. Saudade do barulho, das pessoas, dos pais, do abraço de seu namorado. Chorou e depois de algum tempo desistiu de chorar. Algo mais estava errado. Porque não voltavam com a bandeja? Porque não voltavam com a violência e com a invasão de seu corpo, de sua alma, de sua dignidade? Já se passavam dias. Dias em que teve medo, revolta, repulsa, esperança, dor, ódio, pavor, nojo, fé e por fim resignação e desistência.
Preferia as discussões, os berros e o stress. Desde que a abduziram da porta de casa, encapuzados e violentos aos gritos até o momento em que deixou o desconfortável porta-malas para vislumbrar a casa antiga no campo com seu jardim mal cuidado e rodeada por árvores, jamais havia ficado sozinha. Levavam bandejas com frutas, biscoitos e as vezes comida de micro-ondas. Levavam-a ao banheiro quando desejava. No principio se divertiam dando banho nela e depois – por perceberem que dava muito trabalho – deixavam-a tomar banho sozinha tomando cuidado de deixar a porta aberta. Havia também o abuso e a violência. Mas agora tudo havia cessado. Absolutamente tudo. Estava exausta, fraca e suja. Havia excreções e fedor impregnados em seu corpo. Não comia há dias. Poderiam eles terem sido presos. Poderiam ter sofrido um acidente enquanto saiam a noite para se divertir, confiantes de quem ninguém encontraria o cativeiro. Poderiam ter morrido em um tiroteio com a polícia ou fugido. Não sabia, só sabia que não havia ninguém. Não havia forças. Não havia nada. A não ser um lindo dia de primavera e um pássaro amarelo esperando para comer seus olhos.
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